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Arquitetos: Merooficina
- Área: 344 m²
- Ano: 2022
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Fotografias:José Campos
Descrição enviada pela equipe de projeto. A reabilitação da cidade é hoje considerada um ato contínuo, extenso e coletivo de construção e reconstrução do habitat humano. É consensual que resulta da memória coletiva de uma determinada comunidade, dos valores patrimoniais existentes e das necessidades habitacionais contemporâneas. A Casa da Afurada insere-se num tradicional bairro de pescadores da cidade de Vila Nova de Gaia, onde residiam marnotos e pescadores. A construção dessa arquitetura popular foi destinada a um grupo social que combinava o trabalho com a vida em comunidade, de modo que o bairro cresceu a partir de uma relação direta entre áreas de moradia, lazer e socialização. Nessa reabilitação, foi adotada uma abordagem fluida do patrimônio, em que o vernáculo e a preservação dos elementos existentes se misturam com formas mais contemporâneas de construir e morar. Nesse sentido, evitou-se a construção de novos elementos, com o objetivo de apenas retocar a organização tipológica do edifício antigo e adaptá-lo à intenção de habitá-lo.
As texturas existentes, como azulejos e pisos de madeira, foram reutilizadas e reinventadas em outras áreas, enquanto elementos característicos, como os tetos de gesso ornamentados e a carpintaria antiga, foram reparados e preservados. A fachada voltada para o norte, que era a mais deteriorada, passou pelas maiores mudanças com a introdução de uma nova porta de entrada, um quarto principal e a expansão da cozinha. Acima desse novo quarto, o precário telhado de madeira coberto com telhas foi substituído por um terraço de terracota, oferecendo um espaço ao ar livre com vista para o rio. O nível do sótão aproveita esse novo espaço ao ar livre e tem a função dupla de espaço de trabalho e quarto de hóspedes, enquanto o piso inferior continua a acomodar um espaço comercial.
As intervenções resultantes dessa nova organização buscaram ser minimamente intrusivas e, ao mesmo tempo, estabelecer um forte diálogo com os notáveis elementos construtivos e decorativos pré-existentes. Nesse caso específico, a remoção de elementos precários permitiu recuperar a antiga organização e, com alguns acréscimos infraestruturais, acomodar plenamente o cotidiano dos novos habitantes. Nesse sentido, a reabilitação desse antigo edifício do final do século XIX visa contribuir para a revitalização gradual dessa área ensolarada e cada vez mais densa, marcada pela nova dinâmica de renovação da marina e dos espaços urbanos circundantes, bem como pelo recente fluxo de turismo para a área.